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14/07/12

Literatura - Um grupo de investigadores estrangeiros partiu à procura de Fernando Pessoa e encontrou um espólio de inéditos a ir desde a crítica ao salazarismo à prosa desconhecida de Álvaro de Campos, passando pelas milhares de folhas escritas guardadas religiosamente na Biblioteca Nacional!



«Arca de Pessoa revela material “para cinquenta anos de trabalho”


Um grupo de investigadores estrangeiros partiu à procura de Fernando Pessoa e encontrou um espólio de inéditos a ir desde a crítica ao salazarismo à prosa desconhecida de Álvaro de Campos, passando pelas milhares de folhas escritas guardadas religiosamente na Biblioteca Nacional.


Jerónimo Pizarro nasceu na Colômbia e vive hoje em Portugal por causa de Fernando Pessoa.  Numa sala da Biblioteca Nacional perante papéis em tom amarelo, escritos a lápis, caneta ou dactilografados rodeado pelo espólio do escritor, o investigador revela-nos que havia afinal mais do que uma arca onde o poeta depositava os seus escritos.


“Há muito muito material, é uma fonte de trabalho o para 40, 50 anos”, diz o professor da Universidade dos Andes, titular da Cátedra de Estudos Portugueses do Instituto Camões na Colômbia.


“É difícil esgotar a riqueza deste espólio. Há em todos os géneros, poesia, prosa…O plano é resgatar e reeditar o capital editorial da Ática, a primeira editora de Fernando Pessoa”, conta Jerónimo Pizarro, que acaba de coordenar com o italiano António Cardiello a publicação do inédito "Prosa de Álvaro de Campos". 


“O plano que temos é continuar a publicar o que Pessoa escreveu nos últimos cinco anos de vida. Isso significa dar a conhecer o muito que escreveu sobre esoterismo”, exemplifica.


Mas há mais. “Temos muitos textos de índole política, muito muito crítico da ditadura, do salazarismo, e que temos ainda que conhecer muito melhor os textos sociológicos e políticos de Fernando Pessoa entre 1930 a 1935”. 


Depois de já ter contribuído com oito volumes para a melhor compreensão da obra de Fernando Pessoa, Jerónimo Pizarro trabalha agora na edição de novos inéditos.


O espólio é uma espécie de puzzle do qual é preciso juntar as peças, e neste labirinto de criação, Pessoa nem sempre facilitou a vida a quem o estuda, conta Jerónimo Pizarro, que explica que o desafio a quem hoje estuda a obra não se coloca apenas em descobrir qual dos heterónimos está a escrever, mas também em decifrar a letra.


Guardado em mais de uma centena de caixas, o espólio de Fernando Pessoa está desde 2010 digitalizado e acessível, parcialmente, por internet através do site da Biblioteca Nacional.


Hoje esta ferramenta de trabalho facilita a investigação, até  porque no imenso espólio há folhas onde há ao mesmo tempo um aforismo de Álvaro de Campos ou um verso do Livro do Desassossego. Percorrer este mundo de Pessoa é um trabalho de detective, já que escrevia em qualquer papel e em três línguas diferentes.


Jerónimo Pizarro teve a ajuda de outros pessoanos no trabalho de digitalização da biblioteca de Fernando Pessoa. Ao seu lado teve o argentino de ascendência italiana Patricio Ferreno; o italiano António Cardiello e canadiana Pauly Bothe, filha de um pai alemão e uma mãe irlandesa que trocou a vida no México por Portugal, há cinco anos, depois de ter aberto um livro de Fernando Pessoa . 
                               
O olhar de Pessoa cegou o italiano António Cardiello, que se cruzou com o poeta através das traduções de António Tabucchi e ganhou um novo amor. Está há oito anos em Portugal.


Há seis está Patrício Ferrero, que deu os primeiros passos no português através de Pessoa. Este pessoano diz ser mais fácil aprender uma língua do que entender o mundo de Fernando Pessoa.


Jerónimo, António, Pauly e Patrício juntam-se a outros nomes como o colombiano Jorge Uribe ou o americano Richard Zenith. Estrangeiros que são agora também portugueses por causa de Fernando Pessoa - o autor que não se esgota.


Na próxima semana pode ainda acrescentar imagem aos sons do espólio de Pessoa com a grande reportagem da Renascença V+.» in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=30&did=70066


(Mariano Deidda - Fernando Pessoa, inédito)



(Fernado Pessoa - Poema do Menino Jesus - Alberto Caeiro) 




Poema do Menino Jesus


Num meio-dia de fim de primavera


Eu tive um sonho como uma fotografia


Eu vi Jesus Cristo voltar à terra.


Veio pela encosta de um monte.


E era a eterna criança, o Deus que faltava.


Tornando-se outra vez menino,


A correr e a rolar pela relva


E a arrancar flores para deitar fora.


E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu.


Era nosso demais para fingir desegunda pessoa da Trindade.


Um dia, que Deus estava dormindo


e que o Espírito Santo andava a voar


Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.


Com o primeiro, ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.


Com o segundo, ele criou-se eternamente humano e menino.


E com o terceiro ele criou um Cristo
e o deixou pregado numa cruz que serve de modelo às outras.


Depois ele fugiu para o sol


e desceu pelo primeiro raio que apanhou.


Hoje ele vive comigo na minha aldeia


e mora na minha casa em meio ao outeiro.


É uma criança bonita, de riso e natural.


Atira pedra aos burros.


Rouba a fruta dos pomares.


E foge a chorar e a gritar com os cães.


Nem sequer o deixaram ter pai e mãe


como as outras crianças.


Seu pai eram duas pessoas: um velho carpinteiro


e uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo.


E sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher, era uma mala
em que ele tinha vindo do céu.


E queriam que justamente ele pregasse o amor e a justiça.


Ele é apenas humano,


limpa o nariz com o braço direito,


chapina as possas d'água;
colhe as flores, gosta delas,


esquece-as.


E porque sabe que elas não gostam
e que toda a gente acha graça,


ele corre atrás das raparigas
que carregam as bilhas na cabeça e levanta-lhes as sáias.


A mim, ele me ensinou tudo.


Ensinou-me a olhar para as coisas.


Aponta-me todas as belezas que há nas flores.


E mostra-me como as pedras são engraçadas


quando a gente as tem nas mãos e olha devagar para elas.


Ensinou-me a gostar dos reis e dos que não são reis.


E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.


Diz-me muito mal de Deus.


Diz que ele é um velho estúpido e doente.


Sempre a escarrar no chão e a dizer indecências.


E que a Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meias.


E o Espírito Santo coça-se com o bico;


empoleira nas cadeiras e suja-as.


Tudo no céu é tão estúpido como nas Igrejas.


Diz-me que Deus não percebe nada das coisas
que criou - do que duvido.


"Ele diz por exemplo que os seres cantam sua glória.


Mas os seres não cantam nada
se cantassem, seriam cantores.


Eles apenas existem e por isso são seres..."


Ele é o humano que é o natural.


Ele é o divino que sorri e que brinca.


E é por isso que eu sei com toda certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro.


E depois, cansado de dizer mal de Deus


ele adormece nos meus braços.


E eu o levo ao colo para minha casa.


Damo-nos tão bem na companhia de tudo


que nunca pensamos um no outro.


Mas vivemos juntos os dois


com um acordo íntimo,


como a mã0 direita e a esquerda.


Ao anoitecer, nós brincamos nas cinco pedrinhas do degrau da porta de casa.


Graves, como convêm a um deus e a um poeta.


É como se cada pedra fosse um universo


e fosse por isso um grande perigo deixá-la cair no chão.


Depois ele adormece.


E eu o deito na minha cama despindo-o lentamente


seguindo um ritual muito limpo, humano e materno até ele ficar nu.


E ele dorme dentro da minha alma.


Às vezes ele acorda de noite e brinca com os meus sonhos.


Vira uns de perna para o ar.


Põe uns encima dos outros.


E bate palmas sozinho sorrindo para o meu sono.


Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno.


Pega-me tu ao colo.


E leva-me para dentro da tua casa.


E deita-me na tua cama.


E conta-me histórias, caso eu acorde, para eu tornar a adormecer.


E dá-me os sonhos teus para eu brincar...


(Alberto Caeiro)

25/03/12

Arte Literatura - O escritor italiano Antonio Tabucchi morreu hoje de manhã em Lisboa aos 68 anos, vítima de doença, e será sepultado na próxima quinta-feira na capital, disse à Lusa a sua mulher!


«Escritor italiano Antonio Tabucchi morreu hoje em Lisboa


O escritor italiano Antonio Tabucchi morreu hoje de manhã em Lisboa aos 68 anos, vítima de doença, e será sepultado na próxima quinta-feira na capital, disse à Lusa a sua mulher.

Tabucchi, que se “encontrava doente”, estava internado no Hospital da Cruz Vermelha, referiu a viúva do escritor, Maria José de Lencastre.

A mulher disse ainda que o funeral irá decorrer na próxima quinta-feira, em Lisboa.

Nascido em Vecchiano, na província de Pisa, a 24 de setembro de 1943, Antonio Tabucchi era um escritor italiano e professor de língua portuguesa na Universidade de Siena.

Grande conhecedor de Portugal, país pelo qual era muito apaixonado, Tabucchi era também tradutor e crítico da obra de Fernando Pessoa, à qual chega nos anos 1960, na Sorbonne, e pelo qual fica fascinado.

É aliás Pessoa que o faz apaixonar-se por Portugal e que o faz dar aulas de Português, para melhor perceber o poeta.

Em conjunto com a companheira, Maria José de Lencastre, tem traduzido para italiano muitas obras de Fernando Pessoa.

Entre outras obras, Antonio Tabucchi escreveu uma comédia teatral sobre Pessoa. Prémio Médicis, por “Nocturno Indiano”, e Prémio Campiello, por “Afirma Pereira,” são alguns dos galardões que recebeu.

“Pequenos equívocos sem importância”, “Une baule pieno di gente”, “Os últimos três dias de Fernando Pessoa”, “A cabeça perdida de Damasceno Monteiro” e “Está a fazer-se cada vez mais tarde” são outros títulos do autor.

Além de “O fio do Horizonte”, outras obras de Tabucchi foram adaptadas ao cinema, como “Nocturno Indiano” (1989) “Afirma Pereira” (1995), cujo protagonista foi Marcello Mastroianni, “Requiem” (1998) e “Dama de Porto Pim” (2001).» in http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/escritor-italiano-antonio-tabucc_3063.html


«Antonio Tabucchi

Antonio Tabucchi (Vecchiano, província de Pisa, 24 de setembro de 1943 - Lisboa, 25 de março de 2012) foi um escritor italiano, professor de Língua e Literatura Portuguesas na Universidade de Siena.

Muito apaixonado por Portugal, e dos melhores conhecedores, crítico e tradutor italiano do escritor português Fernando Pessoa. Tabucchi chega à obra de Pessoa nos anos sessenta, na Sorbona, fica fascinado e no seu retorno a Itália assiste a aulas de português para poder perceber melhor o poeta.

Os seus livros estão traduzidos em cerca de dezoito países. Em parceria com Maria José de Lancastre, sua companheira, tem traduzido para italiano muitas das obras de Pessoa. Escreveu, além de outras obras, um livro de ensaios e uma comédia teatral sobre ele.
Obteve o prémio francês "Médicis étranger" pelo seu romance Notturno Indiano, e o prémio Campiello por Sostiene Pereira.

Alguns dos seus livros mais conhecidos são Notturno Indiano, Piccoli equivoci senza importanza, Un baule pieno di gente, Gli ultimi tre giorni di Fernando Pessoa, Sostiene Pereira, La testa perduta di Damasceno Monteiro e Si sta facendo sempre più tardi. Vários dos seus livros foram adaptados ao cinema, com destaque para Sostiene Pereira, onde Marcello Mastroianni realiza uma das suas últimas interpretações, em 1995, um ano antes da sua morte.


Índice [esconder]


1 Início de vida
2 Mais trabalhos
3 Morte
4 Bibliografia
5 Referências


[editar]Início de vida


Antonio Tabucchi nasceu em Pisa, mas cresceu na casa de seus avós maternos em Vecchiano (uma aldeia nas proximidades). Durante os seus anos na universidade, ele viajou muito pela Europa na senda dos autores que ele havia encontrado na biblioteca de seu tio. Durante uma dessas viagens, encontrou o poema "Tabacaria" tabacaria num quiosque perto da Gare de Lyon, em Paris, assinado por Álvaro de Campos, um dos heterónimos do poeta Português Fernando Pessoa. Foi na tradução para o francês por Pierre Hourcade. Das páginas deste ele extraiu a intuição do seu interesse na sua vida futura, pelo menos, nos vinte anos seguintes.

A visita a Lisboa provoca o seu incontestável amor à cidade do fado e do país como um todo. Como resultado, formou-se em 1969 com uma tese sobre "O surrealismo em Portugal". Ele especializou-se na Scuola Normale Superiore di Pisa na década de setenta e em 1973 foi nomeado professor de Língua e Literatura Portuguesa, em Bolonha. Nesse ano, ele escreveu a sua primeira novela, Piazza d'Italia (Bompiani, 1975), em que tentou descrever a história do ponto de vista dos derrotados. Neste caso dos anarquistas da Toscana. Seguiu assim a tradição dos grandes escritores italianos de um passado relativamente recente, tais como Giovanni Verga, Federico De Roberto, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Beppe Fenoglio, e autores contemporâneos, como Vincenzo Consolo.


[editar]Mais trabalhos

Em 1978 foi nomeado para a Universidade de Génova, e publicou Il Piccolo Naviglio (Mondadori), seguido por Il gioco del rovescio e altri Racconti (Il Saggiatore) em 1981, e Donna di Porto Pim (Sellerio 1983). A sua primeira novela importante, Notturno indiano, foi publicada em 1984, e se tornou a base de 1989, um filme dirigido por Alain Corneau. O protagonista tenta traçar um amigo que desapareceu em Portugal mas está na verdade buscando a sua própria identidade.

Publicou Piccoli Equivoci senza importanza (Feltrinelli) em 1985 e, no ano seguinte, Dell'orizzonte Il filo. Este romance apresenta um outro protagonista (Spino) numa missão para descobrir algo (neste caso, a identidade de um cadáver), mas que também está, mais uma vez, procurando a sua própria identidade, que viria a se tornar uma missão comum para os protagonistas Tabucchi. A película foi elaborada a partir deste livro, também, em 1993, dirigido por Fernando Lopes Português. Em 1987, Volatili del Beato Angelico (Sellerio) e Pessoana Mínima (Imprensa Nacional, Lisboa) foi impresso, tendo recebido o prêmio francês "Médicis" para o melhor romance estrangeiro (Notturno indiano). No ano seguinte, ele escreveu a comédia I Dialoghi mancati (Feltrinelli). O presidente da Portugal outorgou-lhe o título Do Infante Dom Henrique em 1989 e nesse mesmo ano o governo francês nomeou-o Cavaleiro des Arts et des Lettres.

Tabucchi publicou Un Baule pieno di gente. Scritti su Fernando Pessoa (Feltrinelli) em 1990, e no ano seguinte, L'Angelo nero (Feltrinelli 1991). Em 1992, ele escreveu em Português Requiem, um romance depois traduzida em italiano (Feltrinelli, vencedor do Prémio PEN Clube italiano) e Sogni di Sogni (Sellerio).

1994 foi um ano muito importante para o autor. Foi o ano de Gli ultimi tre giorni di Fernando Pessoa (Sellerio), mas mais importante do romance que lhe trouxe o maior reconhecimento: Sostiene Pereira (Feltrinelli), vencedor do Prêmio Super Campiello, Scanno e Jean Monnet de Literatura Europeia. O protagonista desse romance tornou-se um símbolo da defesa da liberdade de informação para os adversários políticos de todos os regimes anti-democráticos. Em Itália, durante a campanha eleitoral, a oposição contra o polêmico magnata da comunicação Silvio Berlusconi agregou-se em torno deste livro. O diretor Roberto Faenza extraiu-se o filme homônimo (1995), no qual lançou Marcello Mastroianni como Pereira e Daniel Auteuil como o Dr. Cardoso.

Em 1997 Tabucchi escreveu o romance La testa perduta di Damasceno Monteiro baseado na história verídica de um homem cujo cadáver foi encontrado decapitado em um parque. Descobriu-se que o homem havia sido assassinado em uma estação da Guarda Nacional Republicana (GNR). A notícia atingiu a sensibilidade do escritor e da imaginação. A definição do evento no Porto deu também o autor a oportunidade de mostrar seu amor pela cidade. Para terminar esta novela, Tabucchi trabalhou sobre os documentos recolhidos pelos investigadores no Conselho Europeu, em Estrasburgo, que respeitar os direitos civis e as condições de detenção na Europa, incluindo a relação entre cidadãos e agentes das forças de segurança. A novela demonstrou ser profética, quando um membro da polícia, o sargento José dos Santos confessou mais tarde o assassinato. Este foi mais tarde e após julgamento condenado e sentenciado a 17 anos de prisão. Também em 1997, escreveu Tabucchi Marconi, se ben mi Ricordo (IIE), seguido no ano seguinte por L'Automobile, Nostalgie la et l'Infini (Seuil, Parigi, 1998). Esse ano a Academia Leibniz lhe concedeu o Prêmio Nossack.

Escreveu Zingari e il Rinascimento (Sipiel) e Ena poukamiso gemato likedes (Una camicia piena di Macchie. Conversazioni di con AT Anteos Chrysostomidis, Agra, Atene 1999), em 1999. "As dúvidas são como manchas na camisa lavadas branco. A tarefa de cada escritor e de cada homem de letras é instalar dúvidas para a perfeição, porque perfeição gera ideologias, ditadores e idéias totalitárias. Democracia não é um estado de perfeição".

Em 2001 Tabucchi publicou o romance epistolar, Sta si facendo semper più tardi. Nele 17 textos celebram o triunfo da palavra, que, como "mensagens no" frasco, não tem destinatário, são missivas do autor dirigidas a um "desconhecido Restante poste". O livro recebeu o Prémio France Culture 2002 (a rádio francesa cultural) para a literatura estrangeira.

Passa seis meses do ano em Lisboa, com a sua mulher e os seus dois filhos, sendo já um nativo da cidade. O resto do ano é passado na Toscana, onde lecciona literatura Portuguesa na Universidade de Siena. Na verdade Tabucchi considera-se um escritor somente num sentido ontológico, porque do ponto de vista existencial ele está suficientemente contente em poder definir-se um professor universitário ". Literatura para Tabucchi não é uma profissão ", mas algo que envolve desejos, sonhos e imaginação".

Tabucchi contribui regularmente artigos para as páginas culturais dos jornais Corriere della Sera e El País. Em 2004, foi premiado com o prêmio de jornalismo Francisco Cerecedo, atribuído pela Associação de Jornalistas Europeus e entregue pelo herdeiro da Coroa Espanhola, o Príncipe das Astúrias Felipe de Borbón, em reconhecimento pela qualidade do seu trabalho jornalístico e sua defesa aberta da liberdade de expressão.

Em 2007 recebeu um doutoramento honoris causa pela Universidade de Liège.

Em 2011, causou polêmica no Brasil ao recusar o convite da Festa Literária Internacional de Paraty devido à posição do país de não extraditar Cesare Battisti (escritor), condenado por 4 assassinatos na Itália.


[editar]Morte


Antonio Tabucchi faleceu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, em 25 de março de 2012, aos 68 anos[1].


[editar]Bibliografia


Piazza d'Italia - 1975
Il Gioco del Rovescio - 1981
Donna di Porto Pim e Altre Storie - 1983
Notturno Indiano - 1984
Piccoli Equivoci Senza Importanza - 1985
L'angelo Nero - 1991
Requiem: un'Allucinazione - 1992
Sostiene Pereira - 1994
La Testa Perduta di Damasceno Monteiro - 1997
La gastrite di Platone - 1998


Referências


↑ publico.pt (25-3-2012). Morreu o escritor italiano Antonio Tabucchi . 25-3-2012. Página visitada em 25-3-2012.» in http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Tabucchi


"A Vida não Está por Ordem Alfabética


A vida não está por ordem alfabética como há quem julgue. Surge... ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são miga­lhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cimo e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, espalma-se e resta-te apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e continuas à nora, insistes no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado... até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, deixaste na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começas a desconfiar que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas.


António Tabucchi, in 'Tristano Morre'"



Antonio Tabucchi - (Premio Frontiere)

(PORTRAIT OF Antonio Tabucchi)

Antonio Tabucchi - "Il tempo invecchia in fretta"


28/10/11

Amarante Literatura - A jornalista da SIC, Lúcia Gonçalves, apresenta este sábado, dia 29 de Outubro, no Centro Pastoral de Amarante, às 17 horas, o livro da sua autoria “Vencer o Cancro”!



«Amarante: Jornalista da SIC, Lúcia Gonçalves, apresenta sábado livro “Vencer o Cancro” no Centro Pastoral de Amarante



A jornalista da SIC, Lúcia Gonçalves, apresenta este sábado, dia 29 de Outubro, no Centro Pastoral de Amarante, às 17 horas, o livro da sua autoria “Vencer o Cancro”.

Com base no programa homónimo transmitido na SIC e na SIC Notícias, Lúcia Gonçalves revisita as histórias de coragem e os bastidores de uma doença que continua a ser muito temida.

Centrando-se fortemente em casos reais, a obra conta com os relatos de quem viveu a doença e conseguiu seguir em frente, de familiares e amigos que acompanharam o paciente, bem como de médicos e profissionais de saúde, na sua batalha diária pela descoberta de tratamentos e métodos de diagnóstico mais eficazes.

Ao longo de cada capítulo, descreve-se cada um dos tipos de cancro, chamando a atenção para os sinais de alarme a que deveremos estar atentos e traçando as diferentes formas de terapias de que hoje dispomos.

Com uma revisão científica a cargo de especialistas em cada uma das áreas, Lúcia Gonçalves e Júlio Montenegro expõem, numa linguagem acessível, os mitos que rodeiam a doença, alertando para a importância do diagnóstico precoce. Porque a melhor forma de combater o cancro é estar informado e poder dar uma palavra de esperança.

Neste livro, para além de histórias reais, encontra toda a informação básica para ficar a saber que o cancro tem tratamento, desde que detectado a tempo.

A apresentação do livro em Amarante, no Centro Pastoral, conta com a presença da autora Lúcia Gonçalves e Júlio Montenegro.

Lúcia Gonçalves, que escreveu o livro juntamente com Júlio Montenegro, é jornalista, além de autora, apresentadora e produtora de programas de rádio e televisão. É, desde há seis anos, editora executiva adjunta da SIC.

Graças ao seu trabalho com a série de programas Vencer o Cancro, foi distinguida com o prémio Convergência Impresa 2009.» in 

14/03/11

Literatura - Eça de Queirós, o Escritor do Século XIX, cujas ideias e cultura são intemporais!



«JOSÉ MARIA EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900)


A VIDA DOS LIVROS
de 14 a 20 de Março de 2011


José Maria Eça de Queirós (1845-1900) mantém-se presente nos tempos que correm. A palavra presente substitui actual, para que não haja simplificações abusivas. Não se trata, porém, de dizer que tudo se manteve inalterável (com Dâmaso Salcete ou Tomás de Alencar ao virar da esquina) e que a actualidade se mantém tal e qual. Houve mudanças significativas no país, mas há elementos duráveis na análise do autor de “Os Maias” (1888) ou de “O Conde de Abranhos” (1925). Eça desenha uma sociedade em transição, assente nos empregos públicos e nos favores do Estado. É o naturalismo em acção, aqui ou ali polvilhado por um humor fino que procura representar uma sociedade distante e periférica, relativamente aos grandes centros. E quando hoje assistimos à crise da dívida pública soberana, vêm à baila as conversas do banqueiro Cohen relativamente ao dinheiro e aos seus enredos…


DESENTRANHAR O PORTUGAL QUE ESPERA…
Eduardo Lourenço afirmou que “não é susceptível de discussão o amor (e o fervor) com que a Geração de 70 tentou desentranhar do Portugal quotidiano, mesquinho e decepcionante, um outro, sob ele soterrado, à espera de irromper à luz do sol” (“Labirinto da Saudade, ed. 2000, p. 93). Ora, ao lermos Eça de Queirós, impõe-se a pergunta – o que se mantém actual na sua obra? E que país existe por «desentranhar», ao abrigo desse «criticismo patriótico», em que Eduardo Lourenço vem insistindo, como voz clamando no deserto. Não podemos cair na conclusão fácil de que o país é o mesmo ou radicalmente diferente. Qualquer simplificação será sempre caricatural. De facto, Portugal é diferente hoje do que era no final do século XIX. Mas, quando lemos os principais intelectuais e críticos desse tempo assaltam-nos as semelhanças, que têm de ser vistas com as cautelosas distâncias. A chamada Geração de 1870 obriga, porém, a uma especial correcção crítica: de facto, estamos perante analistas de raríssimo talento, com uma inteligência de indiscutível evidência, que souberam colocar-se no lugar da intelectualidade europeia mais avançada e lúcida do seu tempo. A perspectiva crítica deu-lhes uma distância que hoje permite compreendermos melhor o que disseram, concedendo essa reserva uma curiosíssima garantia de actualidade. Se virmos bem, Antero, Oliveira Martins e Eça de Queirós não são portugueses comuns do seu tempo. Viram mais longe e largo, e é isso mesmo que lhes permitiu alcançar um especial sentido de pertinência presente, que nos leva à ilusão de julgar que o país é o mesmo, sem o ser exactamente. No entanto, temos a nítida sensação de encontrar nesses argutos textos algo de familiar ou próximo. E isso não acontece por acaso. De facto, há diferenças e coincidências na sociedade. O país rural não existe já, a distância enorme entre a cidade e as serras reduziu-se, o atraso social endémico mudou de natureza, os dualismos profundos, se se mantêm, tornaram-se diferentes, e as desigualdades que persistem reportam-se a termos de comparação que se transformaram muito. Ainda por cima, não podemos esquecer que as referências queirosianas se enraizaram bastante no mundo português letrado e culto (ou por leitura ou por reminiscência). É difícil de encontrar o Conselheiro Acácio, mas o seu espírito e os seus óculos fumados persistem onde menos se espera. O mesmo se diga de Eusebiozinho, de Palma Cavalão, de Gouvarinho, de Dâmaso ou de Alencar – mas sobretudo de João da Ega, de Carlos da Maia, de Zé Fernandes, de Jacinto, de Gonçalo Mendes Ramires ou de Fradique e do inefável Pacheco. Os ecos dos quadros queirosianos chegam-nos ainda hoje como as análises cortantes das “Histórias” de Oliveira Martins, sendo “Os Maias” a genial tradução romanesca do “Portugal Contemporâneo”. E diga-se que, se alguns criticam a dispersão de personagens e de temas na saga de Eça, a verdade é que essa é uma riqueza da obra que magistralmente contribuiu para o repositório de personagens representado caricaturalmente por João Abel Manta.


A MATÉRIA-PRIMA DE EÇA
Apesar das distâncias, o certo é que há algo na matéria-prima utilizada por Eça que permanece e que mantém actualidade: a ciclotimia portuguesa, o peso do Estado omnipresente com o seu funcionalismo (o “comunismo burocrático”) e a dependência do exterior. Quanto à ciclotimia, eis-nos a oscilar entre a invocação das glórias passadas com um orgulho histórico, tantas vezes desajustado, e a consideração da mediocridade contemporânea (que não é pior nem melhor que a de muitos dos nossos vizinhos, mas que se torna mais evidente quando se insere na tal oscilação entre a glória e a decadência). A verdade é que essa alternância entre nos considerarmos os melhores e os piores do mundo agrava as comparações e as ilusões – o que leva à ambiguidade essencial de “A Ilustre Casa de Ramires” – ainda tão incompreendido… Já quanto ao peso do Estado, devemos referir que o nosso centralismo ancestral resulta da precedência do Estado relativamente à nação, com a inevitável concentração de poderes e o inexorável formalismo destituído de responsabilidade prática. É essa rígida centralização de poderes do Estado que leva à dependência relativamente à Arcada e S. Bento, que tão nitidamente se encontra na análise de Eça, desde Artur Curvelo até ao Conde de Abranhos – e que se prolonga até aos nossos dias no nosso Estado. Essa lógica de dependência, com sequente dificuldade de mobilização dos cidadãos e dos poderes locais (para além do caciquismo) liga-se a outra dependência que a vida económica (sobretudo num tempo de globalização) revela e que tem a ver com as vicissitudes do endividamento. Se recordarmos o jantar do Hotel Central em «Os Maias», depressa compreenderemos que aquilo que preocupa aqueles convivas é, a um tempo, a evolução da mentalidade literária e das escolas de pensamento, tema muito sentido pelo próprio autor (representado, de algum modo, por um alter ego, «sui generis» e complexo, que começa em João da Ega, mas que não existe só, uma vez está vive em ligação com Carlos da Maia, como se se tratasse de um tandem), bem como as repercussões da incerteza financeira e económica, em razão da significativa dependência de Portugal relativamente à economia europeia, em especial através do crédito, já que a história portuguesa oitocentista se confundiu amiúde com a dívida pública e as crises bancárias.


O JANTAR DO HOTEL CENTRAL
«O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar ‘absolutamente’. Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. Lembramo-nos bem da passagem. E depois: « – A bancarrota é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela – continuava Cohen – que seria mais fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país»… Isto, enquanto Ega e, surpreendentemente, Alencar, sonhavam com uma revolução. A história económica portuguesa do século XIX foi longamente dominada pelas crises bancárias (1827, 1846, 1876 e 1891) e pela evolução da dívida pública. As guerras civis contribuíram para essa instabilidade até 1851. Já em 1876 tudo se concentrou na bolha especulativa gerada pela proliferação de entidades bancárias; enquanto em 1891 foi a bancarrota argentina que quebrou a casa Baring de Londres, ligando-se à redução da remessa dos emigrantes do Brasil por causa do fim da escravatura e da implantação da República. E a dívida pública explodiu. Assim, a profecia de Cohen cumpriu-se, houve o convénio dos credores externos de 1902 (com o empréstimo de 99 anos, ao juro de 3 por cento) e um longo purgatório português nos mercados financeiros. Entende-se que a pergunta sobre a actualidade de Eça obriga não a ressuscitar Abranhos ou Dâmaso, mas a desentranhá-los… O que reclama, antes de tudo, exigência crítica.


Guilherme d'Oliveira Martins» in http://www.e-cultura.pt/Artigo.aspx?ID=273
Eça de Queirós


26/01/11

Literatura - "A obra de Sophia, tão luminosoa e opaca, mete medo às pessoas", diz a filha da poetisa!


«"A obra de Sophia, tão luminosoa e opaca, mete medo às pessoas", diz a filha da poeta

Maria Andresen Sousa Tavares, primogénita de Sophia de Mello Breyner Andresen, realça à SIC que a obra da poeta - tão acarinhada pela sua doçura- tem também um lado obscuro e que essa profunda dualidade devia ser alvo de maior estudo académico. Um grande evento cultural permitirá empreender esse caminho que começa, esta quarta-feira, com a doação do Espólio à Biblioteca Nacional, em Lisboa.

"Dei-me conta de que a minha mãe tem sido pouco estudada, muito pouco trabalhada academicamente. Há muita leitura de Sophia no ensino secundário, mas há pouca investigação. Penso que a sua obra, simultaneamente tão luminosa e tão opaca, radiante e fechada, mete medo às pessoas", disse à SIC Maria Andresen Sousa Tavares, professora universitária de Letras e coordenadora da organização do espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen, sua mãe e uma das maiores poetas portuguesa dos século XX, agraciada com o Prémio Camões, em 1999.
Falecida em 2004, aos 84 anos, Sophia - habitualmente referenciada apenas pelo nome próprio - deixou um rico espólio de manuscritos de textos publicados e inéditos, diários, reflexões, agendas, fotografias, cartas e muitos outros documentos de grande valor para o conhecimento da sua vida, obra e processo criativo.
"Ela não se importava com essa ideia de legado, mas a certa altura pediu-me que tomasse conta do que deixava. Eu não percebia nada de espólio e tive de convidar especialistas. Eu era especialista na minha mãe! No primeiro ano a Luísa Cabral colaborou, depois fiquei sou eu com a Manuela Vasconcelos", explica a filha da poeta que analisou cada peça dentro de 87 caixotes, guardados numa garagem.
Ao fim de mais de dois anos de trabalho -com apoio do Centro Nacional de Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e do BPI - o acervo ficou ordenado e será doado para que seja estudado.
A família assina, esta quarta-feira, o Termo de Doação do Espólio à Biblioteca Nacional, em Lisboa, numa cerimónia que será presidida pela Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.
Amigos da escritora - Artur Santos Silva, Eduardo Lourenço, Gonçalo Ribeiro Telles, Guilherme d' Oliveira Martins e Mário Soares - vão falar sobre a sua vida e obra e alguns poemas serão lidos pelos actores Beatriz Batarda e Luís Miguel Cintra.
Segue-se a inauguração da exposição "Sophia de Mello Breyner Andresen- Vida de poeta" - a que corresponde um catálogo editado pela Caminho - e a apresentação do sítio na Internet.
Nos dias 27 e 28 de Janeiro terá lugar, nas instalações da Fundação Gulbenkian, um Colóquio Internacional, promovido por Maria Andresen de Sousa Tavares e realizado com a colaboração do Centro Nacional de Cultura.

Obra, família, intervenção cívica

"Há pessoas que dizem que lêem porque acham muito bonito, mas que só a certa altura é que percebem a verdadeira força da sua poesia. O encontro na superfície daqueles textos entre luminosidade e sombra é muito poderoso", explica Maria Andresen, que com a leitura do espólio verificou que ficaram mais claros os traços " de combatividade ao lado de uma certa fragilidade. Uma complexidade muito maior do que suspeitava".
Sophia nasceu no Porto, em 1919, no seio de uma família aristocrática. Estudou Filologia Clássica em Lisboa, onde se fixou depois de se casar com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares.
Passa a dividir a sua actividade entre a poesia e a acção cívica, com grande combatividade contra o regime de Salazar (tendo o marido sido preso em Caxias) e com fortes intervenções como deputada, após o 25 de Abril.
"Não houve tempo de incluir no catálogo, mas está na exposição a "Carta dos 101 Católicos", que ela e o meu pai assinaram e que foi uma grande machadada no regime totalitário, que fazia uma guerra racista, e que achava que tinha na Igreja Católica um dos seus pilares", refere Maria Andresen Sousa Tavares.
A par desta combatividade, a doçura atravessava sobretudo a obra poética (embora também tenha escrito contos, teatro, ensaio e feito traduções) e os livros infantis que começou a escrever quando os filhos (três raparigas e dois rapazes) tiveram sarampo.

Além da referência à mitologia grega, a natureza e o mar, o humanismo, a relação da linguagem com as coisas e a magia são elementos que marcam a obra de Sophia, quer nos poemas, quer nos livros para crianças.
Gerações sucessivas deliciaram-se com títulos como "O Rapaz de Bronze", "A Fada Oriana", "O príncipe da Dinamarca" ou "A Menina do Mar".

Textos sobre a espuma dos dias e um tesouro antigo

Correspondência com vários amigos e familiares, agendas, diários e outros papéis mostram como era o quotidiano de Sophia, as suas obrigações sociais e viagens, as preocupações diárias.
Reflexões sobre a arte da escrita e o processo criativo são também fundamentais para perceber a sua marca na literatura portuguesa. Sobre o poema disse que "é justo quando é necessário àquele que o escreve e necessário ao mundo".
Mas nem sempre a relação com os textos era pacífica e há cadernos que foram rasgados pela autora e só recuperados graças à intervenção de um amigo que os colou.
Outro tesouro descoberto por Maria Andresen Sousa Tavares há poucos meses, numa arca de fotografias, foram os manuscritos de poemas da adolescência, escondidos num fundo falso.
"Chamámos-lhes imediatamente "os mais antigos cadernos", já que eram do tempo em que ela tinha 12/13 anos. São os primeiros poemas e vão até 1941", refere.
Enquanto não são tomadas decisões sobre os inéditos, a editora Caminho reuniu agora num só volume "A Obra Poética", com cerca de um milhar de páginas das mais belas palavras de Sophia. Belas mas também obscuras, de "meter medo", como diz a filha.
"O lado mais sombrio é o medo da treva, da morte, do lado obscuro das pessoas e das relações, da perda do tempo. Isso sente-se muito na obra poética. Há uma angústia com a passagem do tempo, com as coisas perdidas", explica Maria Andresen Sousa Tavares.» in http://sic.sapo.pt/online/noticias/cartaz/Acho+que+a+obra+de+Sophia+tao+luminosoa+e+tao+opaca+mete+medo+as+pessoas+diz+filha+da+poeta.htm
Espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen doado à Biblioteca Nacional!

16/11/10

Política Nacional - O que Guerra Junqueiro dizia no final do século XIX, mantém-se perfeitamente actual...

«Guerra Junqueiro dizia no final do Século XIX:


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. 



A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
 
Guerra Junqueiro, 1896




«Guerra Junqueiro


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Abílio Manuel Guerra Junqueiro
Abílio Manuel Guerra Junqueiro
Nascimento 17 de Setembro de 1850
Freixo de Espada à Cinta
Morte 7 de Julho de 1923 (72 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal Português
Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 17 de Setembro de 1850Lisboa, 7 de Julho de 1923) foi bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra, alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.

Índice

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[editar] Biografia

Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 17 de Setembro de 1850, filho do negociante e lavrador abastado José António Junqueiro e de sua mulher D. Ana Guerra. A mãe faleceu quando Guerra Junqueiro contava apenas 3 anos de idade.
Estudou os preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de Teologia da Universidade de Coimbra. Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois transferiu-se para o curso de Direito. Terminou o curso em 1873.
Entrando no funcionalismo público da época, foi secretário-geral do Governador Civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo.
Em 1878, foi eleito deputado pelo círculo de Macedo de Cavaleiros.
Faleceu em Lisboa a 7 de Julho de 1923.

[editar] Obra literária

Guerra Junqueiro iniciou a sua carreira literária de maneira promissora em Coimbra no jornal literário "A folha", dirigido pelo poeta João Penha, do qual mais tarde foi redactor. Aqui cria relações de amizade com alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo, grupo geralmente conhecido por Geração de 70.
Guerra Junqueiro desde muito novo começou a manifestar notável talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais esperançosos da nova geração de poetas portugueses. No mesmo ano, no opúsculo intitulado "O Aristarco português", apreciando-se o livro "Vozes sem eco", publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, já se prognostica um futuro auspicioso ao seu autor.
No Porto, na mesma data, aparecia outra obra, "Baptismo de amor", acompanhada dum preâmbulo escrito por Camilo Castelo Branco; em Coimbra publicara Guerra Junqueiro a "Lira dos catorze anos", volume de poesias; e em 1867 o poemeto "Mysticae nuptiae"; no Porto a casa Chardron editara-lhe em 1870 a "Vitória da França", que depois reeditou em Coimbra em 1873.
Em 1873, sendo proclamada a República em Espanha, escreveu ainda nesse ano o veemente poemeto "À Espanha livre".
Em 1874 apareceu o poema "A morte de D. João", edição feita pela casa Moré, do Porto, obra que alcançou grande sucesso. Camilo Castelo Branco consagrou-lhe um artigo nas Noites de insónia, e Oliveira Martins, na revista "Artes e Letras".
Indo residir para Lisboa foi colaborador em prosa e em verso, de jornais políticos e artísticos, como a "Lanterna Mágica", com a colaboração de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro. Em 1875 escreveu o "Crime", poemeto a propósito do assassínio do alferes Palma de Brito; a poesia "Aos Veteranos da Liberdade"; e o volume de "Contos para a infância". No "Diário de Notícias" também publicou o poemeto Fiel e o conto Na Feira da Ladra. Em 1878 publicou em Lisboa o poemeto Tragédia infantil.
Uma grande parte das composições poéticas de Guerra Junqueiro está reunida no volume que tem por título A musa em férias, publicado em 1879. Neste ano também saiu o poemeto O Melro, que depois foi incluído na Velhice do Padre Eterno, edição de 1885. Publicou Idílios e Sátiras, e traduziu e coleccionou um volume de contos de Hans Christian Andersen e outros.
Após uma estada em Paris, aparentemente para tratamento de doença digestiva contraída durante a sua estada nos Açores, publicou em 1885 no Porto A velhice do Padre Eterno, obra que provocou acerbas réplicas por parte da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo cónego José Joaquim de Sena Freitas.
Quando se deu o conflito com a Inglaterra sobre o "mapa cor-de-rosa", que culminou com o ultimato britânico de 11 de Janeiro de 1891, Guerra Junqueiro interessou-se profundamente nesta crise nacional, e escreveu o opúsculo Finis Patriae, e a Canção do Ódio, para a qual Miguel Ângelo Pereira escreveu a música. Posteriormente publicou o poema Pátria. Estas composições tiveram uma imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das instituições monárquicas.

[editar] Lista de Obras

  • Viagem À Roda Da Parvónia
  • A Morte De D. João (1874)
  • Contos para a Infância (1875) (eBook)
  • A Musa Em Férias (1879)
  • A velhice do padre eterno (1885) (eBook)
  • Finis Patriae (1890)
  • Os Simples (1892) (eBook)
  • Pátria (1915) (eBook)
  • Oração Ao Pão (1903)
  • Oração À Luz (1904)
  • Poesias Dispersas (1920)
  • Duas Paginas Dos Quatorze Annos (eBook)
  • O Melro (eBook)

[editar] Cronologia

  • 1850: Nasce no lugar de Ligares, Freixo de Espada à Cinta;
  • 1864: «Duas páginas dos quatorze anos»;
  • 1866: Frequenta o curso de Teologia na Universidade de Coimbra;
  • 1867: «Vozes Sem Eco»;
  • 1868: «Baptismo de Amor». Matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;
  • 1873: «Espanha Livre». Colaboração de Guerra Junqueiro em «A Folha» de João Penha. É bacharel em Direito;
  • 1874: «A Morte de D. João»;
  • 1875: Primeiro número de «A Lanterna Mágica» em que colabora;
  • 1878: É nomeado Secretário Geral do Governo Civil em Angra do Heroísmo;
  • 1879: «A Musa em Férias» e «O Melro». Adere ao Partido Progressista. É transferido de Angra do Heroísmo para Viana do Castelo e eleito para a Câmara dos Deputados;
  • 1880: Casa a 10 de Fevereiro com Filomena Augusta da Silva Neves. A 11 de Novembro nasce a filha Maria Isabel;
  • 1881: Nasce a filha Júlia. Interditada por demência vem a ser internada no Porto;
  • 1885: «A Velhice do Padre Eterno». Criação do movimento «Vida Nova» do qual Guerra Junqueiro é simpatizante;
  • 1887: Segunda viagem de Guerra Junqueiro a Paris;
  • 1888: Constitui-se o grupo «Vencidos da Vida». «A Legítima»;
  • 1890: «Finis Patriae». Guerra Junqueiro é eleito deputado pelo círculo de Quelimane;
  • 1895: Vende a maior parte das colecções artísticas que acumulara;
  • 1896: «A Pátria». Parte para Paris;
  • 1902: «Oração ao Pão»;
  • 1903: Reside em Vila do Conde;
  • 1904: «Oração à Luz»;
  • 1905: Visita a Academia Politécnica do Porto e instala-se nesta cidade;
  • 1908: É candidato do Partido Republicano pelo Porto;
  • 1910: É nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa junto da Confederação Suíça, em Berna;
  • 1911: Homenagem a Guerra Junqueiro no Porto;
  • 1914: Exonera-se das funções de Ministro Plenipotenciário;
  • 1920: «Prosas Dispersas»;
  • 1923: Morre a 7 de Julho em Lisboa.

[editar] Ver também

[editar] Ligações externas

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Parece que está muito actual o que dizia Guerra Junqueiro no final do Século XIX, será que este é mesmo o nosso Fado, conviver com políticos corruptos e aniquiladores do desenvolvimento deste País...
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