26/09/13

Poesia - O Meu Amigo e Poeta, Ângelo Ochôa, interpela-nos com o Poema: "Do Absurdo Acordo Curdo"



"Do Absurdo Acordo Curdo

Os vendilhões do Templo: 
Ou o negócio da Língua: 
Ou o absurdo acordo curdo: 
Ochôa, efectua teu text sem dó nem piedade 
tecla por tecla, 
olho por olho, 
dente por dente. 
Põe de lado teu fundo cristão, 
dá-lhes barbaramente a esses bárbaros que te matam. 
De azorrague, como fez teu amigo Cristo aos que se 
apossavam do templo sagrado para mercadejar mijinhas. 
A esses tansos calhaus estúpidos, 
que vos querem pôr, 
a começar pelas criancinhas aprendizes da Mãe Língua, 
o colete-de-forças do absurdo acordo curdo. 
O ACORDO OU O ARMAGEDON CURDO OU O FACTO DO FATO: 
OU O FATUM DO FATO: 
Em provas de hoje em diante, 
até chegarem bisnetos a berrar: 
AQUI D’EL REI! ESTAMOS NUS! 
Comparemos a portuguesa língua com um fato completo de 
senhora saia e casaco ou de homem calças colete casaco: 
Sempre a construir-se em fina fazenda. 
Agora, o fato está em provas. 
Com o dito cujo acordo curdo absurdo. 
Com finalidade perversa de dar-lhe ductilidade e maleabilidade, vai 
de mexê-lo, e mexê-lo: 
Cose aqui, cose acolá, pesponta aqui, pesponta acolá, pesponta 
acolá, descose aqui, descose acolá, descose aqui, descose acolá, 
alinhava aqui, alinhava-se acolá, desalinhava aqui, desalinhava-se 
acolá. 
Vamos para prová-lo e, ao tentar o vestir, rebenta-nos pelas 
costuras. 
Fazemos então uma triste figura, pior, uma ignóbil figura, 
falsamente compostos dos retalhinhos dos retalhinhos, 
embrulhados dos frios nessa espécie de mantinha 
alentejana, igual a muitas que vemos pelas feiras das vaidades. 
Este é o factum, pior, o post-factum. 
Facto do fato: Estamos nus, ou, piorzinho, 
revestidos com lixo não reciclável.
Este o lado perverso sem reverso da coisa do cose, cose, 
cozinhado que nos dão a comer, 
quer tenhamos ou não vontade. 
Matam-nos a todos, 
por empalamento 
do cu ao céu da boca."

Ângelo Ochôa, Poeta



Poema, invectiva libelo, de Ângelo Ochôa contra o 'Acordo Ortográfico'


2 comentários:








  1. Angelo Ochoa ...o amigo helder é um incansável divulgador da minha pobre poesis, jus se lhe faça.

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