25/01/13

Música Portuguesa - Ana Moura, foi uma fadista generosa, aquela que hoje apresentou o seu Desfado a um público que, apesar de ávido de tradição, devolveu a generosidade em aplausos às novas e "arriscadas" canções!

Ana Moura ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa [texto + fotogaleria] -

«Ana Moura ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa 

Foi uma fadista generosa, aquela que hoje apresentou o seu Desfado a um público que, apesar de ávido de tradição, devolveu a generosidade em aplausos às novas e "arriscadas" canções.

"Eu alinho em tudo. Estou velha mas não estou morta!", ouvimos alguém exclamar à saída do Coliseu dos Recreios. Foi a confirmação bem-disposta daquilo que aprendemos ao longo de duas horas de concerto: os fãs de Ana Moura, dos mais novos aos mais entradotes, têm um valente poder de encaixe, estão dispostos a abrir os ouvidos tanto para os fados tradicionais (os que recolhem aplausos mais sentidos e explosivos) como para as composições menos canónicas de Desfado , o novo álbum da fadista de voz de veludo.

Nem com o momento mais arriscado, e possivelmente mais incompreendido - a bela releitura de "A Case of You", de Joni Mitchell - as palmas esfriaram. Foi, portanto, em inglês, que Ana Moura regressou ao palco, depois de uma pausa para trocar de vestido preenchida por uma exibição de mestria, arrepiante e incisiva, dos músicos que a acompanham - das teclas fantasmagóricas de João Gomes (Cool Hipnoise, Orelha Negra) à inspiradora guitarra portuguesa de Ângelo Freire, passando por um duelo baixo/bateria que terminou em corridinho apoteótico. 

Antes, a fadista tinha já apresentado alguns dos momentos altos de Desfado : abriu com o dramático "Quando o Sol Espreitar de Novo", tema escrito por Manel Cruz (coisa que a fadista anuncia, entre elogios ao concerto dos Ornatos Violeta, a que assistiu naquela mesma sala); seguiu com o fogo lento de "Havemos de Acordar", que lhe foi oferecido por Pedro da Silva Martins (dos Deolinda); e passou pelo exotismo com que os Virgem Suta pintaram "Amor Afoito", uma das canções que melhor aproveita os dotes sedutores da voz da fadista. Foi após esta sequência inicial que Ana Moura se dirigiu pela primeira vez à bem composta plateia do Coliseu, agradecendo a generosidade do fãs num momento complicado para o país. "Deixa-me muito feliz", disse, antes de arrancar para "A Minha Estrela", musicado por Luísa Sobral (rasgados elogios para a artista, que se encontrava na assistência). 

Os primeiros "bravos" da noite chegariam com "A Fadista", a primeira incursão pelos fados tradicionais, aqueles em que Ana Moura se sente, visivelmente, em casa. "Caso Arrumado" regressa ao passado e arrasta piropos ("és linda", ouve-se em coro), "O Espelho de Alice" torna o ambiente solene, enquanto a fadista canta "os sonhos e a loucura", e "Se Acaso Um Anjo Viesse", da "colega do ramo" Aldina Duarte, atira os ânimos para momentos mais gingões, uma agitação que continua com "Porque Teimas Nesta Dor", com Ana Moura a cantar para a guitarra portuguesa e Ângelo Freire a responder à letra. 

Numa noite que poderia ter materializado em palco muitas outras colaborações, a fadista resolveu trocar as voltas e levou consigo para palco José Elmiro Nunes e a sua viola, "um convidado muito especial" que acompanha a sua carreira desde o início. Sozinhos, envolvem "Venho Falar dos Meus Medos" em intimismo, um dueto que culmina em abraço emocionado. A cantora amacia depois a voz para "Despiu a Saudade", com música de António Zambujo - "grande cantor" e "borracho" foram os elogios ao artista, que também se encontrava na plateia -, com a ajuda de uma bateria que varre com suavidade os ouvidos do público, e mantém o registo em "Até ao Verão", "da minha querida Márcia Santos", com as suas cordas saltitonas, postura desafiante e ritmos quentes. "Ah boca linda". Mais piropos, mesmo a tempo de um muito celebrado regresso ao passado. "Búzios" tem direito a ajuda do público nos refrões. 

Antes de um encore que alguns, mais impacientes, não esperaram para ouvir, a fadista apostou em mais três canções de Desfado : primeiro "Como Nunca Mais" de Tozé Brito, depois "Fado Alado" de Pedro Abrunhosa - momento em que aproveita para descer à plateia e distribuir cumprimentos. Para o final, não sem antes Ana Moura se atirar ao folclore apoteótico de "Vai de Roda Agora", ficou "Desfado", tema que dá nome ao disco foi também um dos mais bem recebidos. Para a sequência final, que chegou depois de uma curta pausa, ficaram guardados "Loucura", dedicado à fadista Beatriz da Conceção, "que tenho a honra de ter aqui a ouvir-me", e aplaudido de pé, "E Tu Gostavas de Mim", de Miguel Araújo Jorge, "Leva-me aos Fados", a pedido do público, e o corridinho final "Fadinho Serrano".» in http://blitz.sapo.pt/ana-moura-ao-vivo-no-coliseu-dos-recreios-lisboa-texto--fotogaleria=f85628#ixzz2IyxSuspL



ANA MOURA - "FADO LOUCURA" - (ao vivo - sem microfone)


Ana Moura - "Desfado" 

ANA MOURA - "DESFADO" - (ao vivo no 5 para a meia-noite)


ANA MOURA - "ATÉ AO VERÃO" - (videoclip oficial / new album "Desfado"


ANA MOURA - "FADO ALADO" - (new album "Desfado")




"Desfado

Quer o destino que eu não creia no destino
E o meu fado é nem ter fado nenhum
Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
Ai que alegria, esta tão grande tristeza
Esperar que um dia eu não espere mais um dia 
Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém
Que aqui está e não existe
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem
Só por eu andar tão triste

Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse"
E lamentasse não ter mais nenhum lamento
Talvez ouvisse no silêncio que fizesse
Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande incerteza de não estar certa de nada"

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