13/09/12

Sociedade - Uma civilização que não respeita, mal trata e não escuta os seus anciãos... está próxima do fim!



«Os anciãos vilipendiados do século XXI na nação lusitana…

Todas as grandes civilizações do passado tinham como referência os saberes dos seus anciãos no processo de tomada de decisão, quer em situações simples, quer em casos mais complicados… além disso, os seniores eram respeitados como sendo pessoas importantes na tribo, mas nunca por uma reverência imposta; havia a noção clara de que a sua sabedoria construída muito à custa das agruras do tempo, se constituía como que um reservatório de experiência e de conhecimentos, que seriam um garante de tomadas de decisão mais acertadas e seguras.

Vem isto a propósito do tratamento inferior que é prestado, hoje em dia, aos nossos mais experientes cidadãos. Já pouca gente se levanta para ceder o lugar a um idoso, por exemplo, nos transportes públicos, e, há uma clara tendência para os fazer sentirem-se, como que um estorvo, alguém que já não tem mais nada a acrescentar, nem sequer uma palavra a dizer, quando se sabe que, até em contexto familiar, muitos são permanentemente desconsiderados. Mas estamos mal, pois são Pessoas que merecem sempre uma palavra nossa, um cumprimento caloroso, como apreciam; uma atenção especial, como merecem.

A sociedade atual cultiva o novo e o belo, a imagem do jovem musculado e bronzeado, mesmo que seja à custa do Photoshop… tudo se faz para que a aparência seja perfeita. O saber, a cultura, a história de vida do indivíduo, pouco ou nada importam… o culto do Belo e da Perfeição acima de tudo, basta atentar na nossa publicidade. O velho não serve, está longe desse arquétipo definido pelo mainstream social, onde realmente o saber parecer, vale mais do que o ser e de que o saber. Como poderá quem percorre o início da estrada, ter a ilusão de que já a conhece toda?… 

Acontece ainda que, em Portugal, como em quase toda a Europa, a população tem envelhecido de forma exponencial, o que levou a um aumento significativo da população sénior. Decorre disto tudo que, um grande número de pessoas muito úteis e sábias são constantemente vilipendiadas, por uma sociedade que anda equivocada, estribada em falsos valores sociais e morais, em conceitos de um putativo modernismo, que revelam uma atraso civizacional gritante. Desperdiçamos assim, sobranceiramente, uma massa crítica relevante para o nosso bem-estar social, que muito poderia contribuir para uma sociedade mais sábia, justa, educada e honrada.

Quantos de nós, não ouvimos nos últimos anos, um alerta constante para a nossa situação sócio económica insustentável, por parte de algum familiar mais velho… diziam eles que Portugal não podia continuar a viver acima das suas possibilidades, que isto ia acabar mal para nós. Como se sabe, na política nacional, também foi um político sénior e honesto, daqueles que não andaram a servir-se do país, mas a servi-lo, que nos foi preparando para esta dura realidade que vivemos na atualidade: um estado sem soberania, falido e com poucas perspetivas de sair do poço… chegaram a adjetivá-lo como demente, Dr. Medina Carreira…

Eu só conheci a minha Avó materna, a D.ª Arminda Babo, da Quinta da Aldeia, na Gateira, em Mancelos. Na minha adolescência, chegava a ir de bicicleta desde Fregim, só para ver a minha Avó em Mancelos. Era uma Mulher marcada por uma vida difícil, de quem enviuvou cedo e que num tempo em que os homens reinavam, ela teve que se bater com armas e dentes, para sobreviver num mundo avesso a Mulheres de iniciativa. A nossa adoração era recíproca, o nosso convívio, um delírio de troca de saberes e de carinho. Hoje sou pai e observo o mesmo, na relação muito profícua em todos os aspetos, entre eles e os seus Avós. Como poderá a nossa sociedade continuar a desprezar o contributo e a sabedoria ancestral dos nossos mais velhos cidadãos, não os sabendo ocupar em prol da criação de uma sociedade mais madura, sapiente e íntegra?

E é muito infeliz, o que não raras vezes se ouve para aí em surdina: há muitos jovens e potenciais investidores que referem o facto de este aumento da população sénior, ser uma enorme oportunidade de negócio, designadamente, na criação de lares e de serviços ligados á geriatria… até aqui o Deus dinheiro vai dominar, comprando carinho, sentimentos e afetos. Que sociedade é esta que não considera os seus anciãos?... Que putativo modernismo é este que inverte a ordem de valores humanos básicos, com critérios dignos da sobrevivência nas selvas mais profundas e duras?... Que ser é este em que se transformou o Homem?...

Nas muitas vezes que tive o prazer de privar com um grande ancião de Amarante, o Sr. Manuel Catão, tio da minha esposa, Procurador da Casa de Pinheiro, procurava escuta-lo com muita atenção. Homem sábio, sensato e com muito gosto em falar com gente mais nova e que, não raras vezes me dizia: “Sr. Helder, como pode um País viver com toda a gente a pedir empréstimos, pouca gente a produzir e muita a receber subsídios?”. Este Senhor dizia-me isto há mais de vinte anos… mas, agora, não faltam “doutores” a darem explicações para a nossa crise… talvez se tivessem dado mais atenção às pessoas simples e sábias, que tinham a Universidade de “uma Vida difícil”, nós não nos tivéssemos afundado tanto; digo eu que nada sei! Dizia também o ancião António Aleixo (Poeta Popular): “Eu não tenho vistas largas; nem grande sabedoria, mas dão-me as horas amargas; Lições de Filosofia.”

Helder Barros (http://informaticahb.blogspot.com)» in (Artigo a sair na próxima edição do Jornal de Amarante)


Mafalda Veiga - "Velho"


"Velho
Mafalda Veiga

Parado e atento à raiva do silêncio 
de um relógio partido e gasto pelo tempo 
estava um velho sentado no banco de um jardim
a recordar fragmentos do passado

na telefonia tocava uma velha canção 
e um jovem cantor falava da solidão 
que sabes tu do canto de estar só assim 
só e abandonado como o velho do jardim?

o olhar triste e cansado procurando alguém 
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém 
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver 
a imagem da solidão que irão viver 
quando forem como tu 
um velho sentado num jardim

passam os dias e sentes que és um perdedor 
já não consegues saber o que tem ou não valor 
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim 
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim

o olhar triste e cansado procurando alguém 
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém 
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver 
a imagem da solidão que irão viver 
quando forem como tu 
um resto de tudo o que existiu 
quando forem como tu 
um velho sentado num jardim"



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