09/04/12

Religião - A Páscoa no Minho é outra coisa... muito melhor!




«Páscoa no Vale do Homem


A tradição impõe-se na quadra pascal, uma das festas com mais simbolismo para o mundo cristão. Enquanto as grandes cidades perdem o sentido tradicional da Páscoa, as aldeias e pequenas vilas ainda mantêm bem acesos os costumes. A crise é esquecida e os mordomos ‘abrem os cordões à bolsa’ para celebrarem a ressurreição de Cristo. O Vale do Homem é um exemplo muito forte de que a Páscoa é uma das manifestações comunitárias mais vincadas do mundo rural, apesar dos inúmeros sacrifícios que implica.


Há 10 anos aparelhar uma cruz custava cerca de 10 contos, mas hoje ronda os 150 a 200 euros. O arranjo da igreja vai para mais de 500 euros e se quiser almoçar no restaurante não existem ementas por menos de 35 euros por pessoa. Os mais requintados podem chamar uma banda musical por cerca de 1000 euros e se não se esquecerem do fogo de artifício a despesa sobe ainda mais.


“Nem quero pensar na despesa que vou ter. São tantas coisas que às vezes até tenho receio de me esquecer de algum aspecto importante”, revela João Dias de Vila Verde, que vai ajudar o sogro com os encargos da Páscoa. “Ele foi escolhido pelo padre, o que já é uma tradição na freguesia.


Durante o ano tem que enfeitar a igreja com flores e tem que estar presente em algumas cerimónias”, explica o jovem de 22 anos. Os custos passam pelo emparelhamento da cruz, o almoço e as roupas para a família. O fogo de artifício também não é esquecido e, como já é tradição, a merenda para a freguesia em casa não fica de fora das despesas.


“É uma festa muito bonita, mas que dá muito trabalho porque tem que ser preparada com alguma antecedência e existem coisas que não podem falhar. O meu pai já tinha sido mordomo, mas já lá vão muitos anos e os custos são cada vez maiores”, sustenta a filha do mordomo, Lúcia Gonçalves.
Também o mordomo Luís Santos, de Amares, confessa que a despesa faz desmotivar, apesar da fé que a cerimónia comporta. “Nunca imaginei que os gastos fossem tão grandes. Se soubesse talvez não me tivesse proposto, mas agora há que seguir em frente que já falta pouco mais de uma semana”, diz, com um sorriso.


O mordomo vai fazer o almoço em casa, mas contratou uma empresa de ‘catering’ para servir, uma vez que não tem tinha muitas pessoas na família com disponibilidade para cozinhar no dia de Páscoa. “Ainda tentei arranjar pessoas para ver se ficava mais barato, mas todas as pessoas dão importância à Páscoa e por isso não estão para ter trabalho nesse dia”, menciona o empresário da construção civil.


A maioria considera que os gastos são muito elevados, mas valem a pena. “Fui mordomo há dois anos e gastei muito dinheiro, mas a festa é tão bonita que vale o investimento”, refere José Antunes, enquanto diz que “as pessoas têm que manter as tradições e o compasso pascal é uma das mais importantes no Minho”. Depois de morar em Lisboa durante três anos e de não celebrar a Páscoa como habitualmente, o professor quis tomar a ‘cruz da responsabilidade’ e pensa em fazê-lo novamente quando os filhos estiverem independentes.


No Vale do Homem a escolha dos mordomos é variável consoante a freguesia. Em certos locais, os mordomos são voluntários, ou seja, propõem-se com um ano de antecedência. Noutros, são escolhidos pelo anterior mordomo ou pelo pároco da freguesia, de forma a existir alternância. As responsabilidades são muitas, como por exemplo, o asseio da igreja, o vestuário, o banquete de Páscoa, o fogo de artifício e o aparelhar da cruz, entre outras que vão surgindo com as novas ‘modas’.




Limpezas da Páscoa


Outra das tradições rurais que já vai perdendo alguns adeptos, mas que continua ainda com bastantes fiéis, sobretudo nas aldeias, é a limpeza da Páscoa. As casas são limpas a fundo para receber o Compasso Pascal. As pessoas começam cerca de 15 dias antes e limpam tudo aquilo que ficou imóvel durante quase um ano.


“Costumo lavar os cortinados e limpar tudo de uma ponta a outra. Tiro janelas e lavo portas para que tudo fique a espelhar quando o Compasso passar cá em casa”, diz Aurora Dias, de 71 anos. Lembra que antigamente também fazia a limpeza por altura da Páscoa, mas que “as coisas estavam muito mais sujas do agora porque sempre vamos limpando qualquer coisita durante o resto do ano”.


Na maioria das aldeias, as pessoas que se dedicam á agricultura dizem que têm pouco tempo para fazer limpeza noutras alturas. Quando falam de limpeza é de uma “arrumação a fundo”, como menciona Rosa Gomes, de 65 anos. Costuma esperar pelas filhas que estão a morar no Porto para as grandes limpezas. “Fica tudo a brilhar para receber Jesus e também o mordomo e o padre que costumam sentar-se para comer qualquer coisa”, advoga a idosa.


Quando as casas precisam de uma pintura nova ou de algum móvel que tenha que ser substituídos os custos elevam-se e podem atingir valores bem pesados. “Tive alguns trabalhos nesta época porque as pessoas querem tudo arrumado e bonito para a Páscoa”, diz o pintor Luís Gonçalves. Alguns fazem mesmo as obras que ficaram por concluir há bastante tempo. “Tive uma marquise para fazer e uma cozinha para pôr azulejo e mosaico novo”, afirma o empreiteiro Celestino Araújo.


Os preços praticados são os mesmos durante todo o ano, mas quem tem que fazer obras de última hora acha que é mais caro. “Eles desde Janeiro a Abril levam mais caro porque têm muito serviço. Ainda no ano passado pintei a casa e comprei mobília nova para a sala e gastei mais 300 euros do que deveria se fosse noutra altura do ano. As pessoas são comodistas e deixam tudo para os últimos tempos”, revela Maria Abrantes, de Vila Verde.




Domingo, segunda ou Pascoela


O dia de receber o Compasso Pascal varia consoante a freguesia. Algumas pessoas recebem ao domingo, outras à segunda-feira e há também aqueles que apenas têm a visita do Compasso no domingo seguinte, conhecido por domingo de pascoela.


No Vale do Homem, a maioria das pessoas ainda abre a porta para beijar Jesus ressuscitado. A tradição vai-se perdendo apenas nas vilas e começa a notar-se menos afluência nos meios rurais, consequência da desertificação das aldeias, principalmente da parte mais interior dos concelhos, que são as mais envelhecidas.


No dia anterior à Páscoa, as pessoas atapetam as ruas e os caminhos com bolotas e flores. No dia do Compasso, apressam-se para beijar a Cruz nas casas dos vizinhos e amigos. É uma multidão de gente que passa de casa em casa. Depois de beijarem a cruz, os proprietários da casa convidam o pároco e os mordomos a sentarem-se, oferecendo-lhes o banquete, com as mais variadas iguarias, sem nunca faltar o pão-de-ló, os doces da romaria e o vinho verde, que tão bem caracteriza esta região.


Por fim, é entregue o "folar" do pároco (actualmente dinheiro num sobrescrito fechado) e outras esmolas para as Almas e o Senhor, não esquecendo, também, o folar do rapaz da campainha e da caldeira.




Tradições que persistem


No Vale do Homem, mais concretamente na freguesia de Fiscal, em Amares, ainda persiste um ritual muito antigo. A freguesia está dividida por um rio, por isso, para que todas as famílias possam beijar a cruz em suas casas, o Compasso tem que atravessar o rio de barco, apesar de já haver lá uma ponte. São poucas as pessoas que se encontram na outra margem do rio Homem, mas mesmo assim estas não são esquecidas pelo mordomo e pároco de Fiscal.




Recolha das Cruzes


A Páscoa é uma festa cristã, onde se celebra a ressurreição de Jesus Cristo. Trata-se de uma espécie de ritual de passagem da morte para a vida. Assim, além do pároco acorrer às casas para dar a notícia da ressurreição, as pessoas também se deslocam no final do dia à igreja, onde se costuma fazer o “recolher da(s) Cruz(es)”. O som de várias campainhas anuncia este momento e as pessoas cantam, para celebrar. Em Vila Verde, são inúmeras as pessoas que não perdem o ritual.


Em certas freguesias também é costume realizar-se uma missa no fim do Compasso visitar todas as casas. As pessoas rumam à igreja e, em paralelo com o recolher da Cruz, é celebrada a eucaristia.




Jovens preferem férias


Os mais jovens começam a perder o interesse pelas tradições da Quaresma e da quadra pascal. Preferem aproveitar as mini-férias para descansar, a maioria mesmo longe de casa e dos costumes rurais.


Luísa Santos estuda na Universidade do Minho em Guimarães, mas diz que não vem para casa nas férias da Páscoa porque prefere aproveitar para conhecer outras zonas do país e fazer “um programa mais interessante”. Também Marco Soares, de Vila Verde, opta por ir até Espanha durante uma semana para relaxar. “A Páscoa não me diz grande coisa e prefiro aproveitar para estar com os meus amigos e visitar museus e outros locais, menciona o estudante de engenharia civil.


A falta de fé está muitas vezes na origem desta aposta de alguns jovens. “Não vou à missa nem dou valor à religião, por isso a Páscoa não tem o interesse que tem para os cristãos. Prefiro descansar porque o trabalho é muito pesado todo o ano”, explica Lucília Bastos. Há ainda aqueles que se identificam com a religião católica, mas que sentem que “existem outras prioridades e o tempo é tão escasso para gerir tudo”, como André Oliveira.




Procissões da Semana Santa


Tradição religiosa para turistas


A cidade de Braga é um bastião do cristianismo desde os primeiros séculos e mantém desde a Idade Média o seu costume litúrgico, sendo mesmo a terra portuguesa que festeja com maior solenidade a Semana Santa. Toda a cidade se 'veste' com decorações alusivas à quadra pascal e transfigura-se para receber as famosas procissões, sobretudo a da Penitência, que se caracteriza por parar em cada Passo e a Procissão do Senhor Ecce-Homo, precedida pelos conhecidos farricocos.


De realçar ainda a Procissão Teofórica do Enterro que percorre as naves da Catedral com o Santíssimo Sacramento e a Procissão do Enterro do Senhor que encerra o ciclo de procissões da Semana Santa. Segue-se a Páscoa e a visita dos compassos que começam a não ir ao encontro das pessoas em suas casas, mas que recebem as pessoas para a celebração da ressurreição de Cristo nas igrejas da cidade.
As procissões necessitam de muitos figurantes e a comissão organizadora do evento diz que anualmente são necessários perto de 2500 figurantes, entre adultos crianças, sacerdotes e leigos. Nos últimos anos, o grande problema tema sido a falta de 'anjinhos' para integrar as procissões, sobretudo as da noite. Para colmatar o problema, este ano fizeram uma campanha na Internet e nas escolas e os resultados têm sido visíveis.


A cidade de Braga é o símbolo da Páscoa no Minho, mas são várias as localidades que realizam as tradicionais procissões da Semana Santa e que culminam com encenações da morte de Cristo. Ponte da Barca, Viana do Castelo e Barcelos são outras cidades que não se esquecem de festejar a quadra pascal com procissões e representações.




Celebrações atraem turistas


Braga recebe anualmente durante este período cerca de 300 mil turistas, sendo a maioria nacionais, mas também da vizinha Espanha. Os ingleses, alemães e franceses começam também a preferir esta altura do ano para conhecer a cidade e assistir a uma das mais fortes celebrações do ano, a quadra pascal.


Este ano a Região de Turismo Verde Minho lançou a ideia dos hotéis contribuírem anualmente com um valor de cinco euros por quarto para ajudarem a financiar as solenidades da Semana Santa. Mais de metade dos hoteleiros aceitaram, mas a iniciativa não tem sido pacífica.


Alguns empresários hoteleiros consideram que não são os únicos a ganhar dinheiro com a Semana Santa, mas a realidade é que os 12 hotéis da cidade de Braga esgotam os seus 1100 quartos nesta época. Até agora, as solenidades sempre foram pagas pela Região de Turismo, Câmara Municipal, associação Comercial e Cabido da Sé Catedral, mas os gastos são cada vez maiores. Além disso, as dificuldades financeiras obrigaram a comissão a procurar outras fontes de receitas para fazer face a um orçamento de mais de 110 mil euros.


Metade dos hotéis de Braga vai aderir à iniciativa. O cónego Jorge Coutinho, presidente da comissão que organiza as solenidades já disse que “é justo que quem ganha com estas solenidades as ajude a custear, já que, se não houvesse estas majestosas procissões e todas as celebrações da Semana Santa, os hotéis não se encheriam de gente nem os comerciantes aumentariam de forma assinalável a sua facturação”.


Autor: Carla Cerqueira | 2007/04/04 In: Terras do Homem




NOTAS:


BARCOS ARTESANAIS


A tradição manda que sejam quatro os barcos a atravessar o Rio Homem. No mais pequeno vai o fogueteiro, para deitar os foguetes no meio do rio e nos outros vão, num o compasso (pároco e mordomos), e nos dois restantes a banda de música. Porém, nos últimos anos, tem havido lugar para um quinto barco onde a comunicação social pode acompanhar o evento.


BANDA DE MÚSICA


Todos os anos, uma banda de música acompanha o compasso no percurso para a outra margem. Este ano, a honra coube à Banda de Cabreiros, composta por cerca de 50 elementos, que além de tocar no meio do rio, fez questão de interpretar várias músicas durante a caminhada a pé pelo resto da freguesia. Os músicos costumam parar para tocar em frente a cada casa onde entra o compasso.


PADRE E DOIS MORDOMOS


O pároco Joaquim Costa, acompanhado de dois mordomos e de uma vasta comitiva de ajudantes, percorre toda a freguesia, num ambiente muito colorido, animado pelo lançamento de foguetes e pela banda de música, e em que os arcos de flores marcam todo o percurso pelas cerca de 300 casas da freguesia, das quais apenas 20 se situam na outra margem do rio.» in http://www.srcoronado.com/smf/index.php?topic=6492.0







(PÁSCOA DE FISCAL)

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