20/06/10

Amarante - Desertificação dos centros históricos é um dos dados sociológicos mais importantes das últimas décadas – António Mega Ferreira!

AMARANTE: Desertificação dos centros históricos é um dos dados  sociológicos mais importantes das últimas décadas – António Mega  Ferreira
Armindo Mendes
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«AMARANTE: Desertificação dos centros históricos é um dos dados sociológicos mais importantes das últimas décadas – António Mega Ferreira
(19-06-2010)

“Pela quantidade de superfícies comerciais, isto é um fenómeno, com características portuguesas bastante específicas, não é um fenómeno seguido em todos os países europeus”, afirmou Mega Ferreira.

Amarante, 19 de jun (Lusa) - O presidente do Centro Cultural de Belém, António Mega Ferreira, considerou hoje em Amarante que “a desertificação dos centros históricos das cidades e a passagem para os centros comerciais é um dos dados urbanísticos e sociológicos mais importantes em Portugal nas últimas três ou quatro décadas”.
“Pela quantidade de superfícies comerciais, isto é um fenómeno, com características portuguesas bastante específicas, não é um fenómeno seguido em todos os países europeus”, afirmou.
António Mega Ferreira falava hoje na segunda sessão das Conferências de Amarante, organizada pela associação local da associação “Espírito de Opinião”, subordinada ao tema “Como uma boa estratégia para a cidade contribui para uma boa cidadania”.
Além de Mega Ferreira, também interveio o bispo do Porto Manuel Clemente, acabando por não comparecer o terceiro conferencista convidado, Manuel Salgado, que justificou a ausência com o facto de, na sua qualidade de vice-presidente da Câmara de Lisboa, ter estado nas cerimónias fúnebres de José Saramago.
António Mega Ferreira defendeu que a proliferação dos centros comerciais, nas periferias das cidades, tem a ver com o facto de cada vez menos gente nascer e viver nos centros históricos.
“A ideia da cidade alargou-se do ponto de vista espacial e foi-se dissolvendo a ideia da cidade como o lugar da cidadania. Hoje as pessoas vão à cidade para cumprirem determinados rituais de massas, como os grandes concertos e os jogos de futebol, mas não vão às cidades para comprar”, vincou.
Para António Mega Ferreira, o modelo atual de grandes cidades, como as áreas metropolitanas com vários pólos urbanos, significa que “não é possível falar de uma cidadania, mas de cidadanias”.
“Isso representa a busca de sociabilidades novas”, enfatizou.
Para o conferencista, estas mudanças, associadas às novas formas de comunicação, fazem com que “o conceito de cidadania esteja hoje em revisão”.
“Devemos ter uma certa humildade intelectual para perceber como funcionam essas coisas e tentar encontrar formas novas de relação dos cidadãos com as cidades”, acrescentou.
“Estamos provavelmente a viver os últimos tempos, um fim muito lento, dessas ideias aglutinadoras em excesso, que nós fomos desenvolvendo na nossa cultura e civilização”, concluiu.
Manuel Clemente considerou, por seu turno, que “a crescente concentração urbana, “não parece valorizar o fórum central, nem o ritmo cívico comum, de tal modo que o chamado caos urbano manifesta a complexa morfologia dos nossos aglomerados”.
Para minorar esse caos, o bispo do Porto defendeu que se deve “valorizar todos os grupos intermédios, potenciando a subsidiariedade social em benefício de um todo, como as famílias, as vizinhanças e os agrupamentos de interesses”.
“Será de certo diferente, mas não deverá ser menos solidário em termos de cidadania adulta. A cidade do futuro só pode ser fruto ou manifestação das cidadanias reencontradas”, considerou.

APM.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/fim» in http://www.expressofelgueiras.com/v2/noticia.asp?cod=3036

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