21/01/08

Educação em Portugal - Circulo Aberto (Do que não se fala!)


José Matias Alves
«O que é notícia é do que se fala. E o que é que é notícia? O que interessa aos poderes, o que revela as desgraças claras, o que consta das agendas construídas pelos diversos sectores influentes. No campo educativo, tem sido notícia a avaliação dos professores (para criar a ideia política e social de que vão ser enfim controlados, premiados e punidos), a nova gestão das escolas (para gerar a convicção de que há um caos que vai finalmente ser resolvido), o novo regime de apoios educativos, o estatuto do aluno…
Interessa, hoje, falar do que não se fala. De uma formação contínua de professores, pedra angular da melhoria do ensino, que deixou de existir sob o signo do descrédito generalizado e que os professores vão pagando reduzindo ainda mais os seus penalizados salários.
De um currículo do 3º ciclo do ensino básico totalmente desarticulado e esmigalhado em 16 disciplinas e áreas, segura fonte de insucesso institucionalizado e quase naturalizado.
Da desautorização do trabalho docente, do progressivo esgotamento, da perda da auto-estima e da identidade profissional, estando a cavar-se o enterro da esperança de uma regeneração dos processos e resultados educativos.
Dos contratos de autonomia prometidos a mais de 100 escolas que há um ano (na sequência de avaliação externa) esperam por uma contratualização que esteja ao serviço da implicação e responsabilização de todos os interessados nas matérias educativas.
Dos climas escolares agressivos e turbulentos que dificultam o cumprimento das promessas educativas. De comunidades educativas inexistentes e que, são, quando muito, mitos úteis. Da fuga simbólica da escola paradoxalmente convertida no último recurso da esperança e muitas vezes também inferno.
Há um claro défice de realidade na mediatização do (não) está a acontecer na escola. É bom que os meus leitores escrevam as notícias do que se não fala, mas seguramente lhes dói. » in Correio da Educação.
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Concordo plenamente com a ideia principal do texto acima explicitado. A agenda mediática em Portugal e não só, veicula essencialmente o que o poder instalado quer, ou tudo aquilo que os grupos de interesse, ditam. Os senhores que governam, os poderes tutelares, querem-nos convencer de que esta reforma educativa, designadamente, o novo processo de avaliação dos professores tem como finalidade a melhoria da qualidade da educação em Portugal. A pressão que se sente nas escolas para a melhoria a todo o custo dos níveis de sucesso educativo em Portugal, com chantagens e grande pressão sobre todos os professores que insistem e bem, em manter níveis de exigência de forma a que o processo de ensino-aprendizagem saia dignificado e em última análise, fazer com que os alunos aprendam mesmo. Porque todos sabemos que há muitas pessoas que não é analfabeta formalmente, mas são de facto ileterados. As reformas sucessivas, que criam cursos tecnológicos, dois anos depois, novos cursos tecnológicos, dois anos depois cursos profissionais; a criação das disciplina de TIC no 9.º e 10.º ano de escolaridade; a retirada da disciplina do 10.º ano dois anos depois, a inclusão da disciplina no oitavo ano, mas sob a forma de área curricular não disciplinar; são alguns exemplos de como somos títeres nas mãos dos verdadeiros palhaços. Depois o clima que se vive hoje em dia nas escolas, em que os professores querem imprimir os seus recursos educativos e não conseguem, porque a impressora, raramente está disponível, querem o projector, não está disponível, querem utilizar o quadro interactivo não têm formação para tal, aprendem a operar com a plataforma moodle e o ministério parece que se prepara para acabar com a plataforma moodle, pois fez um contracto com outra empresa, que vai introduzir outra plataforma; enfim são muitos exemplos de desnorte que ninguém avalia. O aumento exponencial da burocracia, que sobrecarrega os docentes com tarefas muitas vezes inúteis, em que fazem relatórios para arquivar, fazem dossiers para arquivar, levando muito trabalho para casa que acresce ao normal trabalho de preparação das aulas. E vida pessoal, o professor terá direito? Um professor feliz dará aulas felizes e formará crianças para uma vida mais feliz? Disso ninguém fala, não interessa ouvir os malandros dos professores... eles são uma raça à parte!

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